sexta-feira, 2 de março de 2012

O princípio de Premack

           D. Premack desenvolveu um procedimento de reforçamento muito interessante, onde um dado comportamento é utilizado para reforçar outro. Ele observou que em uma dada situação alguns comportamentos eram mais prováveis que outros: é mais provável que um garoto prefira jogar vídeo game a ajudar sua mãe na faxina, por exemplo. Desse modo Premack sugere que tornemos o comportamento mais provável contingente à execução do menos provável. A mãe pode criar uma contingência onde o comportamento do filho de ajudar na faxina será reforçado por jogar vídeo game.
            Esse procedimento de reforçamento é conveniente no sentido em que não utiliza reforçadores primários (comida, água, sexo), secundários (afeto, fixas e outros) e nem generalizados (como o dinheiro), “... o reforço é o próprio comportamento.” (Lundin, 1977, p. 183).
            Ao ler sobre o Princípio de Premack, lembrei-me de algumas passagens da minha infância e concluí que minha mãe, mesmo sem nunca ter entrado em contado com qualquer teoria comportamentalista, tinha uma espécie de “conhecimento intuitivo” do princípio que D. Premack descreveu.
Eu era um menino muito preguiçoso e não me agradava nem um pouco ter que fazer qualquer coisa que não fosse brincar, e como cresci no sítio as opções para brincar eram muitas. Mamãe, aproveitando a alta probabilidade do meu comportamento de brincar, arranjava contingências do tipo “você só vai tomar banho na represa e/ou pescar se capinar o quintal”, “só vai jogar bola se lavar a varanda”, “só vai ir à casa do João se arrumar sua cama” etc. Caso eu não aceitasse a condição... ela abandonava o Princípio de Premack e partia para o controle aversivo: uma fina vara de um metro de comprimento retirada de um pé de goiaba, um poderosíssimo reforçador negativo.
As aplicações do Princípio de Premack são muitas, podendo ser utilizado na educação, nas organizações, na psicoterapia e com um pouco de criatividade até mesmo no marketing, dependerá dos objetivos do experimentador e principalmente das características das situações a serem modificadas.
Fonte: LUNDIN, Robert William. Personalidade: uma análise do comportamento. São Paulo, EPU, 1977.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A Naturalidade Humana (Parte 3)


Lucanus Cervus


  Muitas pessoas utilizam do argumento de que somente o ser humano possui uma propriedade “mística” chamada subjetividade. Para estas pessoas, a subjetividade é um conceito que enquadra as particularidades dos organismos humanos e é algo que se inter-relaciona com a “personalidade”.

   O conceito de subjetividade possui o mesmo erro conceitual de demais expressões mentalistas. Temos comportamentos observáveis que são atribuídos a personalidade e ao subjetivo, mas não há nenhuma evidência da existência de tais componentes. A nível de argumentação, vamos considerar subjetividade como características individuais dos organismos, sendo a soma de sua história de reforçamento e punições, juntamente com predisposições genéticas. Agora que fizemos alguns esclarecimentos para o âmbito comportamental, vamos ao porquê o ser humano não é mais complexo que demais animais por esta característica.

   Os animais não-humanos também possuem individualidade. Vamos considerar como analogia um besouro (Lucanus Cervus da imagem acima). Observando este inseto, vemos que, apesar de sua aparência observável igual a todos de sua espécie, todos possuem uma história diferencial entre eles. O processo de seleção natural ocorre minuciosamente nestes animais também, sendo assim, a cada novo besouro há características para adaptação ambiental que garantem o sucesso de sobrevivência da espécie. O outro ponto que usamos aqui para definir individualidade é o histórico de reforçamentos e punições, ou histórico de comportamentos adaptativos. Por esta ótica, não é de se estranhar que animais não-humanos, assim como o inseto que referimos acima, possuem uma história de comportamentos adaptativos que o dão a possibilidade de manter-se vivos.

    Talvez para o leitor acostumado com a visão de seres humanos complexos e em prol de uma subjetividade achem este texto simplista. Entretanto, sugiro que vejam somente os conceitos estabelecidos aqui e deste modo mais naturalista de compreender a humanidade.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Raiva desadaptativa

O prolongamento da raiva causa danos fisiológicos e sociais.
   A raiva é uma emoção muito comum enquanto consequência da retirada de um estímulo reforçador ou a apresentação de um estímulo aversivo. Ela é uma emoção natural na contingência apresentada acima e sua existência está ligada com o processo de seleção natural.
   É muito válido conhecer sobre emoções e suas características. Um profissional bastante conhecido na área é o psicólogo Paul Ekman, consultor da série Lie to Me. Seu estudo baseia-se principalmente na universalidade das emoções. O psicólogo considera a alegria, a tristeza, o medo, a surpresa, a raiva, o desprezo e o nojo, como sendo emoções de cunho universal e manifestadas por meio de microexpressões.
    Bom, o tema é bastante interessante, entretanto só me referi a ele para ilustrar sobre a raiva e as emoções. A questão de hoje é sobre autocontrole e raiva.

Paul Ekman
   Podemos definir o autocontrole como a capacidade do sujeito manipular estímulos que o faça comportar-se conforme as contingências. Quando falamos de uma pessoa que possui autocontrole, nos referimos a uma pessoa capaz de comportar-se adaptativamente as contingências e não apresentando comportamentos desadaptativos (esses comportamentos desadaptativos, vamos chamá-los assim,podem ser considerados como dentro da classe "causar malefícios a si e/ou à outras pessoas"). Diante disso, fica claro a importância de ter autocontrole.
    Paul Ekman, referindo-se à duração das emoções, fala de uma duração em segundos da liberação de hormônios que levam a "sensação" de raiva, entretanto, resquícios desta podem ser prolongados ou não, dependendo das contingências. Exatamente neste instante que o autocontrole surge como alternativa para o estabelecimento de contingências que não prolonguem essa emoção, o que pode causar danos físicos (tanto danos fisiológicos como estresse por prolongação de biofeedback, quanto levar umas porradas por não saber se comportar com outras pessoas que também não o sabem) e sociais (normalmente as pessoas veem àquele sujeito "estourado" como um estímulo aversivo e o evitam).
 
    Para nortear algumas pessoas que sofrem deste "pequeno" problema, destaco algumas possíveis alternativas comportamentais para o autocontrole. Lembrando que me refiro de uma raiva desadaptativa (que não condiz com a situação) e não da raiva instrumental (condizente com as contingências):

1. A psicoterapia é a primeira indicação para quem não consegue se autocontrolar e já teve muitos malefícios devido a comportamentos agressivos.
   Ex.: Marcos percebe que grande parte de seus problemas de relacionamento social, familiar e afetivo é devido a comportamentos agressivo. Ele também percebe que não consegue se autocontrolar suficientemente em tais situações, então, é indicado por um amigo a procurar Terapia Comportamental ou Terapia Cognitivo-comportamental. Marcos em poucas seções nota melhoras, já que agora é capaz de realizar discriminação de estímulos, analisar as contingências e generalizar análises em terapia com o cotidiano;
2. Analisar as contingências e compará-las com anteriores: Estar atento aos elementos que estavam presentes no momento da raiva em situações anteriores e procurar alternativas que possam esquivar ou modificar tais contingências podem ser o grande diferencial para não passar dos limites.
   Ex.: Ana notou que sempre ficava com raiva quando João a cutucava. Para evitar de fazer algo indesejado com João, ela se afasta gradativamente dele toda vez que ele insiste com o comportamento. João ao notar que Ana se afastava toda vez que ele a cutucava, ele pára de emitir a classe de comportamentos "cutucar Ana";
3. Discriminar estímulos: Evitar generalizações é fundamental para não atacar pessoas que não tem absolutamente nada a ver com a situação. Procurar medidas que o capacite para avaliar situações e responder corretamente a estas.
   Ex.: João está passando por contingências que o faz comportar "raivosamente" no ambiente familiar (está divorciando de sua mulher), entretanto, ele realiza generalizações indevidas e age da mesma forma no trabalho, o que o causa sérios danos de produtividade. Com o intuito de discriminar os estímulos, João no caminho do trabalho escuta Bach como um estímulo condicionado, diferindo assim ambiente familiar de ambiente de trabalho.

  É possível que cada pessoa busque medidas que busquem o autocontrole. Encontrar soluções práticas para a raiva desadaptativa é conhecer as contingências que estamos inseridos e também conhecer nossos próprios comportamentos (eis o chamado, autoconhecimento).


Sugestão de leitura: Armindo Freitas-Magalhães -A Psicologia das Emoções: O Fascínio do Rosto Humano.