sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A Naturalidade Humana (Parte 3)


Lucanus Cervus


  Muitas pessoas utilizam do argumento de que somente o ser humano possui uma propriedade “mística” chamada subjetividade. Para estas pessoas, a subjetividade é um conceito que enquadra as particularidades dos organismos humanos e é algo que se inter-relaciona com a “personalidade”.

   O conceito de subjetividade possui o mesmo erro conceitual de demais expressões mentalistas. Temos comportamentos observáveis que são atribuídos a personalidade e ao subjetivo, mas não há nenhuma evidência da existência de tais componentes. A nível de argumentação, vamos considerar subjetividade como características individuais dos organismos, sendo a soma de sua história de reforçamento e punições, juntamente com predisposições genéticas. Agora que fizemos alguns esclarecimentos para o âmbito comportamental, vamos ao porquê o ser humano não é mais complexo que demais animais por esta característica.

   Os animais não-humanos também possuem individualidade. Vamos considerar como analogia um besouro (Lucanus Cervus da imagem acima). Observando este inseto, vemos que, apesar de sua aparência observável igual a todos de sua espécie, todos possuem uma história diferencial entre eles. O processo de seleção natural ocorre minuciosamente nestes animais também, sendo assim, a cada novo besouro há características para adaptação ambiental que garantem o sucesso de sobrevivência da espécie. O outro ponto que usamos aqui para definir individualidade é o histórico de reforçamentos e punições, ou histórico de comportamentos adaptativos. Por esta ótica, não é de se estranhar que animais não-humanos, assim como o inseto que referimos acima, possuem uma história de comportamentos adaptativos que o dão a possibilidade de manter-se vivos.

    Talvez para o leitor acostumado com a visão de seres humanos complexos e em prol de uma subjetividade achem este texto simplista. Entretanto, sugiro que vejam somente os conceitos estabelecidos aqui e deste modo mais naturalista de compreender a humanidade.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Raiva desadaptativa

O prolongamento da raiva causa danos fisiológicos e sociais.
   A raiva é uma emoção muito comum enquanto consequência da retirada de um estímulo reforçador ou a apresentação de um estímulo aversivo. Ela é uma emoção natural na contingência apresentada acima e sua existência está ligada com o processo de seleção natural.
   É muito válido conhecer sobre emoções e suas características. Um profissional bastante conhecido na área é o psicólogo Paul Ekman, consultor da série Lie to Me. Seu estudo baseia-se principalmente na universalidade das emoções. O psicólogo considera a alegria, a tristeza, o medo, a surpresa, a raiva, o desprezo e o nojo, como sendo emoções de cunho universal e manifestadas por meio de microexpressões.
    Bom, o tema é bastante interessante, entretanto só me referi a ele para ilustrar sobre a raiva e as emoções. A questão de hoje é sobre autocontrole e raiva.

Paul Ekman
   Podemos definir o autocontrole como a capacidade do sujeito manipular estímulos que o faça comportar-se conforme as contingências. Quando falamos de uma pessoa que possui autocontrole, nos referimos a uma pessoa capaz de comportar-se adaptativamente as contingências e não apresentando comportamentos desadaptativos (esses comportamentos desadaptativos, vamos chamá-los assim,podem ser considerados como dentro da classe "causar malefícios a si e/ou à outras pessoas"). Diante disso, fica claro a importância de ter autocontrole.
    Paul Ekman, referindo-se à duração das emoções, fala de uma duração em segundos da liberação de hormônios que levam a "sensação" de raiva, entretanto, resquícios desta podem ser prolongados ou não, dependendo das contingências. Exatamente neste instante que o autocontrole surge como alternativa para o estabelecimento de contingências que não prolonguem essa emoção, o que pode causar danos físicos (tanto danos fisiológicos como estresse por prolongação de biofeedback, quanto levar umas porradas por não saber se comportar com outras pessoas que também não o sabem) e sociais (normalmente as pessoas veem àquele sujeito "estourado" como um estímulo aversivo e o evitam).
 
    Para nortear algumas pessoas que sofrem deste "pequeno" problema, destaco algumas possíveis alternativas comportamentais para o autocontrole. Lembrando que me refiro de uma raiva desadaptativa (que não condiz com a situação) e não da raiva instrumental (condizente com as contingências):

1. A psicoterapia é a primeira indicação para quem não consegue se autocontrolar e já teve muitos malefícios devido a comportamentos agressivos.
   Ex.: Marcos percebe que grande parte de seus problemas de relacionamento social, familiar e afetivo é devido a comportamentos agressivo. Ele também percebe que não consegue se autocontrolar suficientemente em tais situações, então, é indicado por um amigo a procurar Terapia Comportamental ou Terapia Cognitivo-comportamental. Marcos em poucas seções nota melhoras, já que agora é capaz de realizar discriminação de estímulos, analisar as contingências e generalizar análises em terapia com o cotidiano;
2. Analisar as contingências e compará-las com anteriores: Estar atento aos elementos que estavam presentes no momento da raiva em situações anteriores e procurar alternativas que possam esquivar ou modificar tais contingências podem ser o grande diferencial para não passar dos limites.
   Ex.: Ana notou que sempre ficava com raiva quando João a cutucava. Para evitar de fazer algo indesejado com João, ela se afasta gradativamente dele toda vez que ele insiste com o comportamento. João ao notar que Ana se afastava toda vez que ele a cutucava, ele pára de emitir a classe de comportamentos "cutucar Ana";
3. Discriminar estímulos: Evitar generalizações é fundamental para não atacar pessoas que não tem absolutamente nada a ver com a situação. Procurar medidas que o capacite para avaliar situações e responder corretamente a estas.
   Ex.: João está passando por contingências que o faz comportar "raivosamente" no ambiente familiar (está divorciando de sua mulher), entretanto, ele realiza generalizações indevidas e age da mesma forma no trabalho, o que o causa sérios danos de produtividade. Com o intuito de discriminar os estímulos, João no caminho do trabalho escuta Bach como um estímulo condicionado, diferindo assim ambiente familiar de ambiente de trabalho.

  É possível que cada pessoa busque medidas que busquem o autocontrole. Encontrar soluções práticas para a raiva desadaptativa é conhecer as contingências que estamos inseridos e também conhecer nossos próprios comportamentos (eis o chamado, autoconhecimento).


Sugestão de leitura: Armindo Freitas-Magalhães -A Psicologia das Emoções: O Fascínio do Rosto Humano.