"Na natureza, cada animal é o melhor no seu ramo". |
Ontem tive um debate muito interessante em um grupo de
Psicologia no Facebook. Entretanto, houve um momento que tive que sair do
bate-papo e ficou a dúvida sobre uma afirmação que eu disse:
“Seres humanos não são mais complexos que animais”.
Diante disto, torna-se necessário algumas colocações que podem ser úteis também
ao leitor do blog. Para tal, optarei em um sistema de exposição de ideias em
tópicos curtos e com argumentos diretos (mesma forma que adoto em debates
virtuais). Inicialmente, a ideia era uma única postagem com a refutação dos
argumentos relatados por lá, mas vi que esta tarefa se tornaria cansativa para
o leitor e para mim, então, optei por fazer uma série de postagens sobre estas
questões, o que provavelmente levará ao surgimento de mais questionamentos.
SERES HUMANOS NÃO SÃO MAIS COMPLEXOS QUE ANIMAIS
Não é necessário que
seja um expert em história para
observar que o homem moderno sempre se colocou como centro do universo. O
antropocentrismo, geocentrismo e criacionismo são exemplos máximos de “ALTARismo”
do homem , acreditando que este seja o melhor dos animais e o mais dotado de
peculiaridades (ou como muitos colegas preferem: de “subjetividade”). A
permanência desta visão centrada no homem no centro de todas as coisas,
possivelmente está ligada ao pensamento religioso.
Agora que levantamos
as possibilidades que levaram a este pensamento de centro humano e de sua
permanência na contemporaneidade, vejamos as falhas que circundam estas
afirmações, se considerarmos uma análise científica dos fatos, muitos destes
retirados do debate que referi inicialmente.
Argumento de posição privilegiada dos seres humanos:“Seres Humanos são
mais complexos que animais, pois criam ciência, arte, cultura, etc”.
Uma produção
cultural enquadra o desenvolvimento científico e artístico também, já que estes
são produções humanas, sendo assim, podemos levar nossa crítica exclusivamente à
cultura e esta embarca as demais.
A cultura não é exclusividade do ser humano,
pelo menos não podemos afirmar tal elemento. Em um livro muito conhecido do
Richard Dawkins, o Gene Egoísta, o autor fala sobre uma cultura de imitação que
vários animais realizam para manter a sobrevivência ou para procriarem. Uma
cultura de imitação é a realização de atividades que outro organismo realizou
com o “intuito” de receber estímulos reforçados ou evitar estímulos aversivos.
Ex.: Pássaros de espécies diferentes
imitam voos de outras espécies de pássaros para evitar predadores.
Claro que este não
é o único conceito de cultura. O outro conceito de cultura, e este é o que
muitos mentalistas mais defendem, é a
chamada Cultura Criativa. Esta cultura seria definida como a capacidade do ser
humano (e somente ele) realizar feitos grandiosos por meio da “criatividade”.
Temos na defesa desta forma de cultura
uma ficção explanatória evidente, criatividade, que supostamente explica o
comportamento por si. Claro que afirmar que este termo é uma ficção
explanatória não é o suficiente como argumento.
Podemos notar que certos primatas realizam
certa discriminação de estímulos e generalização de forma “magnífica”, assim
como seres humanos fazem. Em documentário postado neste blog, o Brain Story,
mostra que chimpanzés podem chegar a uma capacidade neurofisiológica e de
resposta as contingências a de uma criança de 7 anos, sendo assim, não poderíamos
considerar que crianças de 7 anos já não possuem “criatividade”?
Devemos lembrar também que as produções do
homo sapiens são tão detalhadas, pelo simples fato de que nosso cérebro foi o
órgão de maior desenvolvimento do nosso organismo. Ele foi muito necessário
para que muitos elementos de nossa cultura tivesse essa complexidade.
Considerar que somos
MAIS complexos que os demais animais por termos uma cultura que atenda as
nossas necessidades, é o mesmo que dizer que somos menos sexuados que Bonobos
por termos menos relações sexuais diárias. O que, obviamente, é um erro.
Dizer que seres
humanos não são mais “complexos” que os demais animais não é menosprezar nossa
espécie, mas sim encarar os fatos apresentados e aceitar nossa condição de seres vivos
limitados e “animalescos”, como diz Schopenhauer.
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